quarta-feira, 31 de março de 2010

Naquele Dia...



Naquele dia...

Como me senti feliz naquele dia; tornaram-me tudo o que sempre sonhei ser. Adoraram-me, tudo sempre o que quis ver. Muitas ofertas e saudações a me esperar.

Começaram com homenagens em minha casa. Tudo sempre com tanta beleza a espalhar. E nunca com deslealdade a me esperar. Quantas rosas e lágrimas a me cercar, e meus pais comovidos a prantear.

Meu retrato, na sala, era o centro das atenções; todos observando meus sonhos e meus escritos tentando entender o dito meu.

Estava a dar saltos de alegria, sempre tinha sonhado com aquele dia. Que pena que não podia ser diferente do que ocorria.

Vi todos os meus amigos, reunidos a me saldar. E quanta emoção eles tinham a me dar. Que nem sempre amigos como aqueles há de se achar. Orgulho-me de tê-los como amigos, e ao lado esquerdo peito, eles, sempre vou guardar.

Também meus parentes mais queridos vieram me encontrar, e meu encanto, sem lamento a encantar.
Revivi tudo o que tinha vivido emoções de alegrias e mais doía o que tinha me feito sofrido. Mas não me achava, contudo, nem um pouco comovido.

Naquele dia...

Ah, naquele dia, meu sorriso vi em prantos espelhar. E lamentos de outrora me vinham a chegar, todavia nem sempre me faziam lacrimejar. Tão ardido, sofrido me retinha a chamar; chamar por Aquele que me veria a guardar. Guardar os sentidos, sem sentidos ou penar; guardar meu sorriso e um sempre que lembrar; guardar meu choro, e dele não me fazer lembrar; guardar meu espírito, que nem sempre foi digno, mas Ele há de me perdoar.

Todos tomavam chá, da melhor qualidade de chás; e eu pensando onde meu avô paterno jaz. Aquilo tudo mexia comigo, de uma forma que nem mesmo eles saberiam como tudo ia proceder depois. Todos comentavam como eu tinha chegado onde estava agora. Tudo pensavam fazer por mim.

Então vieram os homens de paletó preto, mal humorados. Faziam com que todos se comportassem de maneira mais branda, sem escândalos ao se aproximar de mim. De forma que os gritos se faziam um pouco mais distantes de mim agora.

Levaram-me a vários lugares, e cada lugar mais uma homenagem era feita a mim, mais flores, mais aplausos, mais belas palavras, e o nome poeta implodia nos ambientes em que me encontrava. Sempre, em cada novo lugar, uma coisa mais bela de que a outra. E novamente chá de boa qualidade e café, desta vez, também.

Uma coisa me chamou atenção, em um dos locais que me levaram, sim foi em uma casa, uma casa simples, mas que eu sempre gostei de lá está, de encontrar-se com os amigos, de escrever alguma coisa, de amar, de sorrir, de viver em um local quase mágico, mas que ninguém dava muito crédito. Lá disseram o que eu fazia como fazia, o que escrevia, mostraram meus escritos na pequena parede, até eu me emocionei com todas aquelas palavras estimulantes. Quanta perspicácia na voz do homem que me fazia de um rei; e quanta atenção das pessoas que lá se encontravam, e não eram poucas. Que elegância dos meus amigos e parentes que de um lado para outro me levavam com destreza.

Transbordava-me de alegria tudo aquilo, tamanha felicidade nunca tinha sentido assim na minha vida; sempre quis ver estas homenagens feitas a mim; e pareciam que todos viam como eu sonhava estas homenagens todas, porque estavam perfeitamente iguais os meus sonhos.

Naquele dia...

Naquele dia, como eu me sentia bem em ser venerado, e como sentia prazer em saber que outras pessoas liam mais poesias, liam minha poesia também. Tinha muito a ser resolvido ainda. Muitas outras homenagens e fomos para outro local; parecia que cada bairro, cada rua, cada casa queria me ter em suas casas, por mais humildes que fossem, e como eu gostava disso; estar no meio de quem realmente é gente boa, gente de lutas, de glórias, mais lutas do que glórias. Ter-me ao lado de todos que realmente queria, mas não era possível, já tinham sido agendadas outras coisas, outras vontades, maiores, para a sociedade, que a da gente boa.

Continuavam a andar, desta vez foi uma casa bem maior, nem uma casa era, na verdade era um prédio, estava lotado, vi a foto de meu pai ao lado de outras fotos. Lembrei-me de muitas coisas. Neste prédio tocaram músicas que eu gostava como gostei de escutar índios da Legião Urbana, Não Olhe para Trás da Capital Inicial, entre outras que muito me agradaram.

Enfim chegamos onde mais homenagens foram-me feitas. Na Igreja, isso mesmo na Igreja. Muitos prateavam, sem saber que tudo aquilo era uma saída de um mundo destorcido; de uma realidade já morta, ou seja, continuar neste mundo é continuar morto, e a liberdade nos vem de uma forma que todos pensam ser uma coisa ruim. Pena que por algum tempo não veremos nosso amigos, amores, pais, irmãos; mas por outro lado poderemos ver nossos avôs, nossos amigos que já tinham se libertado.

Mais o momento de mais comoção minha e de todos que lá se encontravam foi quando tocaram a música Love In The Afternoom da Legião Urbana. Que pena que o pranto reverberou dentro do solo sagrado, chorando a dor da perda, mas mal pensam na possibilidade de estarmos juntos em pouco tempo; nosso tempo que é muito curto no mundo concreto, mas na abstração do mundo espiritual o reino dos céus é nossa morada.

Já era fim de tarde, e todos ainda choravam minha perda. Já iriam em direção ao cemitério, e foi quando vi meu corpo estendido de mãos juntas, os dedos entrelaçados. Um leve sorriso brandeava a minha face, alguns que perceberam isto diziam: - Olhe morreu sorrindo!

Chegando à entrada do cemitério tive uma ótima surpresa, vi meus avôs que vinham me buscar, e tinham dois que ainda não conhecia morreram antes deu nascer, ou quando era um bebê, não lembro, só sei que só os conhecia por fotos. Estenderam-me as mãos, eu aceitei e ascendi com ele aos céus, antes de partir ainda vi as últimas pás de terra que iam me cobrindo, e vi o epitáfio em meu túmulo que dizia:

Aqui Jaz O Poeta das Palavras Vivas!



Morais Oliveira.

2 comentários:

  1. Amauri

    Hoje quando ainda tens a face rosada e quente, quero te parabenizae pelos escritos.Espero que esse dia demore muito a chegar, espero que ali naquele dia vc possa dizer que viveu e fez viver!

    Que tu essência, essa de poeta de palavras vivas, nunca morra ....

    Milhões se beijos

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  2. Obrigada, espero que possamos confabularmos nossa poesia em um infinito lírio intelectual!
    Beijos!

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