Quando tento me perder, me acho,
Quando tento deixar, me faço.
E tanto faz ganhar ou perder;
Melhor ser, do que ter.
Não finjo nada, sempre sou,
Não julgue antes de ser julgado,
Atirar pedra é fácil, magoou,
Quem não tem pecado?
Que sabor tem o beijo obscuro?
Sendo de boca antes de escarro?
Fingir não é meu tesouro,
De quem me bateu não quero afago.
Aludir a quem desespera, jamais,
Nem mesmo um instante de euforia.
Melhor, acho eu, chorar onde jaz
Algum amigo que de mim ria.
E se nenhum amigo me sobrar,
Então me entrego a solidão,
Abdico o que mais me faz sonhar,
Mas jamais vou unir-me a ingratidão.
Em um instante foi-se um amigo,
Deveras, não entendo a traição,
Assim tornamos-nos inimigos,
Levando um ou dois a destruição.
Será que a felicidade reside em humilhar?
Será que a virtude pode existir?
Será que o afeto pode procriar?
Será que o bem ainda pode resistir?
Enfim, se não existir a mim,
Perco-me debalde na esperança.
Volto a meu ser enfim,
Posso ser mais uma vez criança.
Amauri Morais.